sábado, 4 de julho de 2009

Maria João Pires diz-se "farta de coices e pontapés"

Maria João Pires vai renunciar à nacionalidade portuguesa.
A Ex-Ministra da Cultura diz que a pianista não tem razões de queixa.



"Não quero ter mais nada a ver com Portugal. Não devo nada ao país, nem Portugal me deve a mim." Foi desta forma, que a pianista Maria João Pires contou ao jornalista da Antena 2, Paulo Alves Guerra, que ia renunciar à nacionalidade portuguesa. A declaração, revelada ontem, foi feita nos corredores do Centro Comercial Amoreiras, em Lisboa. "Cruzei-me com a Maria João Pires, que estava às compras e começámos a conversar. Ao fim de cinco minutos, contou-me que ia renunciar à nacionalidade portuguesa porque está farta dos coices e pontapés que tem recebido de Portugal", diz ao "i" o jornalista.

A pianista, que tem dupla nacionalidade, vai passar a ser apenas brasileira. "A razão que me deu é que no Brasil, para onde foi em 2006, foi muito bem recebida. Está encantada e vai desenvolver um projecto hoteleiro, chamado Toca do Toco, em Salvador."

Paulo Alves Guerra fez questão de frisar que estava a falar com um jornalista, mas Maria João Pires respondeu que ele podia utilizar a informação como entendesse, só não permitia que gravasse a conversa. É que a artista se recusa a dar entrevistas à imprensa portuguesa.

A pianista já tinha ameaçado renunciar à nacionalidade, mas ao que parece desta vez é a sério. "Parecia uma atitude muito pensada", diz o jornalista. Dentro de duas semanas tudo estará tratado, mas antes o seu advogado emitirá uma declaração.

Com 65 anos, a multipremiada pianista está decepcionada com a forma como tem sido tratada no país. A causa de tanta decepção está relacionada com a forma como o governo tratou o seu projecto de ensino artístico de Belgais. Em Junho de 2006, Maria João Pires abandonou o projecto, no concelho de Castelo Branco, porque não aguentava a "tortura", disse na altura. A pianista contou ainda que o projecto tinha corrido bem em termos artísticos, mas administrativamente tinha sido uma tragédia.

Reacções face à vontade da pianista, vencedora do Prémio Pessoa em 1989, o Ministério da Cultura diz nada ter a declarar, uma vez que é uma decisão pessoal. A ex-Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, faz, no entanto, uma avaliação muito negativa deste comportamento: "Maria João Pires foi muito apoiada, pelo poder central e local. Um apoio que nem todos os artistas portugueses tiveram, mas ela não o soube aproveitar da melhor maneira." E vai mais longe: "Maria João Pires está a maltratar Portugal e os portugueses."

António Victorino d'Almeida discorda. "Ela tinha um projecto, não sei se era exequível ou não, mas foi aprovado governamentalmente. O que lhe fizeram, ao cancelar os fundos, foi puxar-lhe o tapete. No lugar dela, faria o mesmo", diz ao "i". O Maestro alerta que a Cultura continua a ser relegada para segundo plano: "Ainda bem que ela fez isto. É um golpe violento, mas eu faria o mesmo, se não tivesse problemas familiares que me prendem a Lisboa. Sabe o que é enviar cartas ao Primeiro-Ministro e nem receber uma resposta? É uma vergonha."

A quinta da pianista passou a alojar, desde 1999, a Associação Belgais, responsável por um projecto de ensino artístico integrado nas aulas de 40 crianças da Escola Básica da Mata. O acordado eram 170 mil euros por ano, mas o Ministério da Educação anunciou em Junho ter bloqueado subsídios "por falta de comprovativo de despesas" e revelou que parte do financiamento tem servido para pagar dívidas à Segurança Social e às Finanças.

in "i", 3 Julho 2009

Nota:
Maria João Pires, não tomou esta atitude por birrinha ou cretinice; aliás já há alguns tempos atrás, tinha manifestado o seu desagrado com a falta de apoio e de reconhecimento para com o seu valor artístico, carreira e projectos, por parte do poder político.
Tenho a certeza que a escumalha política nacional, quando a pianista falecer, vão ser os primeiros a reclamar que Maria João Pires, era uma grande figura da cultura portuguesa.
Mas enfim, toda a gente sabe que a escumalha só anda atrás do dinheiro e esta Senhora, tal como a Cultura, dá despesa, mas engrandece um País, que não é feito meramente de TGV´s, aeroportos, autoestradas, futebol e afins.
Outros seguirão os seus passos...
Portugal continua e continuará a ser um país de pacóvios.

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